Portugal

 Senha Aberta – Primeira Afinação – Portugal

São resultados deste projeto:

Pesquisa literária, musical e audiovisual; pesquisa e produção de conceitos, imagens, projetos e sites afins; estandarte; diário; blog; fotografias; vídeos; entrevistas; sons; percursos; rotas; caminhos; mapas; vivências e relações.

Pauta: Portugal.
Oficialmente República Portuguesa.
Capital: Lisboa, sua cidade mais populosa.
Está situado na Península Ibérica, (sudoeste da Europa). Tem o território de 92.090 km², com uma parte continental e duas regiões autônomas: os arquipélagos dos Açores e da Madeira. Limita-se a norte e a leste pela Espanha ao sul pelo Golfo de Cádiz e a oeste pelo Oceano Atlântico.
Sua população, pelo censo de 2011, é de cerca de 10.000.000 de habitantes.
IDH: 0,816
Moeda: euro.
Foi o mais duradouro dos impérios europeus do século XX. Suas ex-colônias são: Angola, Brasil, Moçambique, Timor-Leste, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, e Macau, que pertence, atualmente, à China.

Atividade do Projeto Senha Aberta: Residência artística em Grândola, a Vila Morena, de 20.04 a 20.05.2014.

Música seminal: Grândola, Vila Morena.

Compositor: José Afonso.

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade.
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade.

Pauta: o poema Grândola, Vila Morena.
“Zeca Afonso escreveu o poema como reconhecimento pela forma amistosa e solidária com que o povo de Grândola o recebeu no dia 17 de Maio de 1964. Ele sentiu como muitos dos seus ideais se materializavam na diversificada atividade cultural da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, assim como na forma solidária e fraterna de trabalho dos membros de sua direção e na contribuição empenhada dos sócios, num projeto coletivo de grande relevo cultural e progressista para a população, cuja maioria vivia da jorna em trabalhos agrícolas ou da indústria corticeira.” (GUERREIRO, M.; LEMAÎTRE, J. Grandola, Vila Morena: a canção da Liberdade. Lisboa, Colibri, 2014, p. 7).

Conceito: Liberdade
Grau de independência legítimo que um cidadão, um povo ou uma nação elege como valor supremo, como ideal; conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei; condição daquele que não se acha submetido a qualquer força constrangedora física ou moral (ou de ordem financeira, adendo meu); condição daquele que não é cativo ou que não é propriedade de outrem; estado daquilo que está solto, sem qualquer empecilho tolhendo os seus movimentos; autonomia, independência, soberania. (HOUAISS, A.; VILLAR, M. S.; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.1752).
Links:
Zeca Afonso. Grândola, Vila Morena, com a letra.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MiIvUCkfGSU>
Acesso em: 2 jun 2014.

*Na área destinada a links e referências estão várias outras gravações desta música.

Tema dominante: “Revolução dos Cravos”. Portugal, 25.04.1974.

Recife, 19.04.2014 (sábado)

1º Movimento
Andante
Viagem do Recife a Lisboa, pelo voo 16 da TAP. Saída do Recife às 23h25min. Chegada a Lisboa, dia 20.04, às 11 horas

. RED= rota do recife a lisboa cópia

Alegro
Estou cheia de expectativas para realizar a Primeira Afinação do projeto Senha Aberta, em Portugal, especificamente em Grândola, a Vila Morena, a “terra da fraternidade”.

Conceito: Fraternidade
Laço de parentesco entre irmãos; irmandade; união, afeto de irmão para irmão; o amor ao próximo; fraternização; a harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa etc.
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.1388).
Espaço
Imaginando-me indo ao encontro da Revolução dos Cravos. Volto no tempo. Arrepios…

Conceito: Revolução
Ato ou efeito de revolucionar(-se); grande transformação, mudança sensível de qualquer natureza, seja de modo progressivo, contínuo, seja de maneira repentina; movimento de revolta contra um poder estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas instituições políticas, econômicas, culturais e morais
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p. 2454).
Adágio
Como seria hoje uma nova revolução que mudasse os padrões de consumo das pessoas e que diminuísse a distância entre os ricos e os empobrecidos do mundo?

Espaço aéreo de Portugal, 20.04.2014 (domingo)

1º Movimento
Chegada a Portugal. Lisboa à vista!

2º Movimento
Viagem de Lisboa à Grândola, a Vila Morena.
Andante
Seguimos 117 km de percurso, por uma estrada “entapetada”. A viagem é agradável, e o Sr. Pedro Sardinha, o condutor do veículo da Câmara Municipal de Grândola, conversa todo o tempo, e chegamos rápido.

 

RED- MAPA DA ROTA DE MINHJA VIAGEM DE LISBOA A GRANCOLA cópia 3º Movimento
Chegada à Grândola.
Andante
Viajamos por cerca de 60 minutos. A paisagem é plana.
Alegro
Surpreendeu-me a primeira impressão de Grândola, no que se refere à organização da cidade.

4º Movimento
Chegada à casa onde vou morar, no Largo Manuel Sobral.

RED- casa de minha residencia artistica- grandola a vila orena cópia


Andante

A casa é enorme.
Alegro
Ficarei, por 30 dias, na antiga Casa dos Magistrados. Tem quatro quartos, três banheiros, duas salas, escritório, terraço e quintal. Estou sendo muito bem acolhida. A casa está limpa, meu quarto arrumado com roupa de cama e banho, e na cozinha água mineral, suco, biscoito e frutas. A maior gracinha! É bom estar aqui.
Espaço
Vou usar, simplesmente, um quarto, um banheiro e a cozinha, além, claro, do hall de entrada, corredor e a escadaria, da qual morro de medo de cair… aqui sozinha, sem ninguém para me acudir. Vou passar o mês inteiro descendo degrau por degrau, sem pensar em mais nada enquanto estiver descendo.

Grândola, 21.04.2014 (2ª feira)

Pauta: Grândola.
É uma vila alentejana pertencente ao Distrito de Setúbal, com território de 825,94 km². Em 2011, sua população era aproximadamente de 14.800 habitantes. Com economia baseada na produção de cortiça, arroz e olivas, tem grande afluência de turismo nas praias de seu litoral.
Origens de Grândola:
“A presença humana no território do actual concelho de Grândola data de tempos remotos – ao todo, são cerca de 40 as estações arqueológicas identificadas, abarcando quase todos os períodos da História, desde o Neolítico ao período Romano. Destacam-se as ruínas romanas da Península de Tróia e as da Herdade do Pinheiro. Integrada na Ordem Militar de Santiago, Grândola foi uma comenda normalmente organizada, com uma população distribuída por vários núcleos, ocupando quase toda a extensão territorial.
Embora não haja muitos dados sobre a população no que se refere à época medieval, sabe-se que, em 1542, a aldeia teria cerca de 135 pessoas e a comenda, no seu conjunto, 810 habitantes distribuídos por cerca de 180 casas. A sua dependência em relação a Alcácer do Sal levou a que D. Jorge de Lencastre e os moradores pedissem a D. João III a carta de foral de vila, que lhes foi concedida a 22 de Outubro de 1544.
Lenda da origem do nome de Grândola:
Conta-se então que, antigamente, a zona de Grândola estava cheia de mato, habitada de muita caça grossa, como por exemplo, javalis e veados. D. Jorge de Lencastre e outros nobres do reino vinham para aqui caçar juntamente com os seus criados. Certo dia, no fim de uma caçada, abateram um enorme e gordo javali. Enquanto cozinhavam num grande caldeirão, alguém terá exclamado: – Oh!!! Que grande olha! (olho de gordura) Daí em diante o lugar passou a chamar-se ‘Grandolha’, mais tarde ‘Grandolla’, até atingir a forma actual de Grândola.”
(Texto recebido de Dra. Isabel Revez, de Grândola, em 13.06.2014).

1º Movimento
Conhecer as pessoas que me recebem.
Andante
Reunião às nove da manhã, na Câmara Municipal de Grândola.
Alegro
Fui recebida, com alegria, por Dra. Isabel Revez (minha coordenadora), pelo Sr. António Jesus Figueira Mendes (Presidente da Câmara Municipal de Grândola), e pela vereadora da cultura, Sra. Carina de Jesus Faustino Batista.
Espaço
São momentos de reflexão acerca da dicotomia entre presente-passado-futuro, quando eu explico, em curtas palavras, o que é o meu projeto, e como pretendo desenvolvê-lo em Grândola. Ficam curiosos quando falo sobre as razões pelas quais defini os oito países do projeto.

2º Movimento
Doação de livros.
Andante
Entrego, à vereadora da cultura, alguns livros que trouxe para doar à Biblioteca Municipal de Grândola.
Alegro
São livros de diversos novos autores do Brasil, tais como os meus, de Jorge Dissonância, Marta Velozo, Maria Apparecida Mattos, Cleo Veloso e outros autores, uma coletânea de autores da UBE-Recife etc, além de três CDs do Jorge Dissonância.
Espaço
É estreitar os vínculos entre os lusitanos e nós brasileiros.
Adágio
Como seria se, por todos os anos, desde a invasão portuguesa ao Brasil, houvéssemos gerado um procedimento de trocas? E se, a partir do letramento das populações, essas trocas tivessem sido de livros? E em que línguas esses livros estariam? É necessário levar em conta que, ainda hoje, existem mais de 200 idiomas falados em nossas comunidades indígenas.

3º Movimento
Grândola
Andante
Caminhar e caminhar pela cidade, sem rumo, perdida… ao final da caminhada quase não acho a casa!
Alegro
É uma pequena cidade. Na verdade é uma vila. É muito bonita, não se vê sujeira nas ruas, nem carros em alta velocidade. O povo é cordial. Podem-se ver crianças soltas, brincando sem adultos por perto.

4º Movimento
Exposição do Jardim 1º de Maio.
Andante
Caminho pelo Jardim. A exposição ‘Arte na Rua: pintar Abril’ tem cerca de 10 trabalhos, medindo, cada, 1,5m X 1,0m.
Alegro
A exposição comemora os 40 anos da Revolução dos Cravos, e os 50 anos do poema de Zeca Afonso. Foi organizada pela Câmara Municipal de Grândola com originais de jovens artistas do concelho.

 

RED= TRABALHO DO JARDIM PRIMEIRO DE MAIO cópia

 

Grândola, 22.04.2014 (3ª feira)

1º Movimento
Florista.
Andante
Comprei cravos vermelhos na floricultura mais próxima do centro da cidade.
Alegro
Olhei aqueles cravos lindos, e eles me cativaram como me cativou, há 40 anos, a história do povo português na luta pelo fim da ditadura salazarista.

Conceito: Ditadura
Governo autoritário exercido por uma pessoa ou por um grupo de pessoas, com supremacia do poder executivo, e em que se suprimem ou restringem os direitos individuais; estado, nação em que vigora esse tipo de governo; excesso de autoridade ou de influência que algo (por exemplo, o poder econômico, adendo meu) ou alguém exerce sobre um conjunto de pessoas.
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.1062).

Pauta: Ditaduras em Portugal
De 1926 a 1933 – Ditadura Nacional. De 1933 a 1974 – Estado Novo (Salazarismo).
A Ditadura Nacional e o Estado Novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) formam, conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o séc. XX, estendendo-se por um período de 48 anos.
António Oliveira Salazar (1889-1970) subiu ao poder em 1932.
A ditadura do Estado Novo baseava-se em autoritarismo, nacionalismo, tradicionalismo, anticomunismo, colonialismo e corporativismo de Estado. Durante a II Guerra Mundial o governo de Portugal não se envolveu. Ficou impassível, “neutro”.
O povo português não podia abrir a boca. Os opositores do Salazarismo foram censurados, presos, torturados e dizimados durante décadas. Tanto em Portugal como nas colônias no Continente Africano.
Salazar foi substituído, por problemas de saúde, em setembro de 1968, por Marcelo Caetano, que somente saiu do poder no “abril” de 1974.

2º Movimento
Distribuir cravos vermelhos.
Andante
Levei cravos vermelhos para Dra. Isabel Revez e Maria José Vasques.
Alegro
Ficamos todas felizes com os cravos vermelhos. Em casa, fiz um jarro com garrafa de água mineral e botei os meus cravos. Fiquei um tempão olhando pra eles… nem vi o tempo passar!

Pauta: Os cravos vermelhos e a Revolução dos Cravos.
Existem duas versões para a história dos cravos vermelhos terem se transformado no símbolo da Revolução do “abril”, em Portugal.
A primeira fala que uma florista tinha os cravos nas mãos e, simplesmente, começou a distribuí-los, colocando alguns cravos, inclusive, nas bocas dos fuzis dos soldados do exército participantes do movimento.
A outra versão conta que os cravos se destinavam à decoração de uma festa desmarcada por causa da revolução, e que os mesmos foram distribuídos da mesma forma que na versão anterior da história.
A imagem mais marcante da Revolução portuguesa é um cravo vermelho na boca de um fuzil. Até hoje, 40 anos depois, os cravos vermelhos são distribuídos ao povo em todos os eventos relacionados ao “abril”.

3º Movimento
Reunião na Junta de Freguesia.
Andante
A reunião com Sra. Maria de Fátima Serralheira dos Santos Luzia – Presidenta da Junta de Freguesia de Grândola e Santa Margarida da Serra – para dar conhecimento do projeto e solicitar ajuda na busca das mulheres que desejo fotografar e entrevistar.
Alegro
Parece que ela me conhece há décadas. Prometeu-me procurar as mulheres.

4º Movimento
Reunião com diretora da educação.
Andante
Apresentação do projeto de workshop para os professores e educadores da cidade, que faz parte da concepção geral do projeto e, também, serve como uma de minhas contrapartidas sociais.
Adágio
Sinto que o workshop não vai acontecer.

Grândola, 23.04.2014 (4ª feira)

Pauta: A Revolução dos Cravos
Mediante a complexidade do que seria explicar o que foi a “Revolução dos Cravos”, resolvo, aqui, fazer um resumo mínimo de alguns aspectos da questão.
O povo estava cansado de ser silenciado, censurado. Pessoas que discordavam do regime vigente eram trancafiadas em presídios. Intelectuais, artistas, jornalistas, pesquisadores, pensadores eram caçados pelo regime ditatorial salazarista. Tudo que era publicado ou gravado tinha que passar pelo “lápis azul” da censura.
O exército, por décadas, envolvido na tentativa do governo português em manter seu império colonial no continente africano, cansou, e não via significado nas lutas por poder em terras africanas. Existia um alto grau de questionamento sobre a distribuição de patentes a membros alinhados ao regime, causando uma insatisfação interna dentro das forças armadas.
Internacionalmente, Portugal já estava desgastado, por ser a mais longa ditadura da Europa Ocidental do século XX, e com isso havia um declínio de confiança perante os que mantinham, à força, esse poder.
Foi criado, dentro do exército português, o Movimento das Forças Armadas (MFA), do qual fizeram parte inúmeros capitães, que juntos resolveram tomar o poder e destituir Marcelo Caetano, o então ditador.
Comandado pelo capitão de Exército Salgueiro Maia, após ampla organização, o MFA foi às ruas.
Com a transmissão de “E Depois do Adeus”, (letra de José Niza e música de José Calvário) pelos Emissores Associados de Lisboa, às 22h55min do dia 24 de Abril de 1974, era dada a ordem para as tropas se prepararem e estarem a postos.
Primeira senha a – “E Depois do Adeus”, com Paulo de Carvalho, interpretada na 12.ª edição do Festival RTP da Canção, em 1974, do qual sairia vencedora.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MrW6zP161QI:>
Acesso em: 10 jun 2014.
O sinal de saída dos quartéis, posterior a este, seria a emissão, pela Rádio Renascença, de “Grândola, Vila Morena” de Zeca Afonso, que foi ao ar às 00h20min, do dia 25 de abril de 1974.
Segunda senha – “Grândola, Vila Morena”, com Zeca Afonso (vídeo com imagens do 25 de abril).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ha-h5bPSxQE>
Acesso em: 10 jun 2014.
Após a tomada do poder pelo MFA, paulatinamente, durante alguns governos provisórios, restabeleceu-se a democracia no país. Os presos políticos foram libertos, acabou a censura, findaram as guerras coloniais, e consequentemente, as colônias do continente africano foram, uma a uma, conquistando sua independência.

1º Movimento
Deslocamento, de comboio, de Grândola a Lisboa.
Andante
A viagem dura pouco mais de uma hora.

2º Movimento
Chegada à Albergaria Insulana, na Rua da Assunção, 52, para hospedagem.
Andante
É um pequeno hotel, bem no coração do centro comercial de Lisboa.
Alegro
A albergaria fica a 10 minutos de caminhada do Terreiro do Paço e do Largo do Carmo, centro das atividades de comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos.

3º Movimento
Associação 25 de abril.
Andante
Almoço na Associação 25 de abril (A25A).
Alegro
O almoço é parte das comemorações do aniversário do “abril de 74”. Hoje, aqui, temos a presença de vários capitães que participaram do MFA. Após o almoço, tivemos uma conferência com Adelino Gomes, Carlos Albino, Joaquim Furtado e Luis F. Costa, jornalistas que acompanharam os acontecimentos do 25 de abril de 1974.

Pauta: O MFA e Salgueiro Maia
O Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou o poder ditatorial, na madrugada do 25 de abril de 1974, teve como seu principal comandante o capitão Fernando José Salgueiro Maia, (1944-1992).
No momento de reunir a tropa para colocar em ação a tomada do poder, ele falou: “Existem os Estados capitalistas. Existem os Estados socialistas. E existe o estado a que chegamos. Nós vamos lutar para mudar o estado a que chegamos.”
“Mas quem foi Salgueiro Maia? Duas palavras? Ou uma estrela reluzente? Uma molécula? Ou um barco? Uma bandeira? Ou um pássaro? Uma árvore? Ou um foguetão? A paz ou a guerra? Um homem ou um santo? Um herói ou um mártir? Para os mais íntimos, Salgueiro Maia não foi seguramente nada disso – apenas coerente, ético e solidário. Alguém para quem o mais importante era saber estar à altura dos acontecimentos, das responsabilidades, das consequências.”
(DUARTE, A. S. Salgueiro Maia – Fotobiografia. Lisboa, Âncora Editora, 2004, p. 10/11).
O autor segue, na página 12:
“Como Salgueiro Maia, quem mais acredita na força das pessoas que na conjunção dos interesses? Como Salgueiro Maia, quem mais está interessado na vitória dos riscos que na gestão das contrapartidas?”
Espaço
Depois do almoço, as falas além de apresentarem os acontecimentos daquela madrugada, trazem uma satisfação em ter participado de forma ativa naquele momento histórico.
Adágio
Aqui, me parece, que a saudade do tempo em que houve a possibilidade de uma ação efetiva frente aos acontecimentos históricos traz uma mágoa com relação aos rumos tomados pela revolução, e melancolia, especialmente perante a “inércia e o medo generalizado nos momentos atuais”, como ficou ressaltado nas falas.

 

RED- cartaz comemorativo dos 40 anos da rev dos cravos cópia

 

A pergunta que fica desse momento é “o que fizemos da Revolução dos Cravos nesses 40 anos?”. Isto está simbolizado pelo cartaz que comemora os 40 do “abril”.

Sobre Salgueiro Maia:
Salgueiro Maia – Retratos contemporâneos”
Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=GxugrwjqXCw>
Acesso em: 15 jun 2014.

Conceito: Saudade
Sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas.
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p. 2525).

4º Movimento
Praça do Comércio.
Andante
Reconhecimento de território.

Lisboa, 24.04.2014 (5ª feira)

1º Movimento
Ida ao largo do Carmo.
Andante
O largo é bem pequeno. As árvores, que aparecem nos registros fotográficos de 1974, agora, estão enormes.
Alegro
Aqui, como em tantos outros lugares da cidade, está montada a enorme exposição “A Revolução está na Rua”, com fotografias “abril de 74”, de Alfredo Cunha, Carlos Gil, Eduardo Gageiro e Mário Varela Gomes.
Espaço
Visualizo esse largo com a multidão, os tanques, e os momentos do “abril”. Vejo a florista distribuindo os cravos vermelhos. Nesse lugar aconteceu a rendição do governo ditatorial. Amanhã estará cheio de gente!
Adágio
O cravo vermelho na boca dos fuzis simboliza muito mais do que a luta pela paz. Simboliza, especialmente, a possibilidade das “flores vencendo o canhão”, como na música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, em a “bainha não tinha faca, nela havia uma flor”, da música “D’Afiada”, de Jorge Dissonância, e na canção de José Carlos Ary dos Santos, “Já chegou a liberdade”, “no rosto traz a verdade/e na baioneta já floriu um cravo”.
Links:
Geraldo Vandré, “Para não dizer que não falei das flores”Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1KskJDDW93k>
Acesso em: 04 jun 2014.
Jorge Dissonância, “D’ afiada”
Disponível em: https://soundcloud.com/elianevelozo/dafiada
Acesso em: 11 jul 2014.
José Carlos Ary dos Santos, “Já chegou a liberdade”
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4k1FDNnbcck>
Acesso em: 04 jun 2014.
Adágio
O que foi feito dos ideais do “abril”, 40 anos depois? Onde estão as flores?

2º Movimento
Tarde, no Terreiro do Paço.
Andante
O Terreiro do Paço (Praça do Comércio) é uma das maiores praças da Europa.
O palco, montado para as comemorações do “abril” é muito grande, e está montado com os fundos para o antigo quartel do Ministério do Exército.
Espaço
Mesmo em nosso mundo de democracia representativa, que poder está hoje no poder? Que possibilidades reais existem de um mundo melhor?
Adágio
O poder ditatorial de hoje não seria o poder econômico, que, como nunca, nos domina a todos?

3º Movimento
Noite. A festa dos 40 anos do “abril”, no Terreiro do Paço.
Andante
As comemorações têm início com duas horas de atraso, por causa de um jogo de futebol, portanto, precisamos considerar como o futebol, um dos maiores empreendimentos econômicos, de caráter privado, mobiliza culturalmente todo o povo.
Analisando a industrialização do futebol, o escritor Eduardo Galeano nos ilumina com o texto abaixo: “No futebol, ritual de sublimação da guerra, onze homens com shorts são as espadas da vizinhança, da cidade ou da nação. Esses guerreiros sem armas ou armadura exorcizam os demônios da multidão e reafirmam sua fé: em cada confronto entre os dois lados, velhos amores e ódios passados de pai para filho entram em combate.
O estádio tem torres e bandeiras como um castelo, assim como um profundo e grande posso ao redor do campo. No meio, uma linha branca separa os territórios em disputa.
Em cada extremo estão as metas que serão bombardeadas com bolas voadoras. A área diretamente na frente do gol é chamada de ‘área de perigo’. No círculo central, os capitães trocam bandeirolas e apertam as mãos como demanda o ritual. O árbitro assopra seu apito e a bola entra em ação. A bola viaja para trás e para frente, um jogador a captura e a leva a passeio, até que é atacado e cai de braços abertos. A vítima não se levanta. Na imensidão do campo verde, o jogador deita prostrado. Da imensidão das arquibancadas, vozes ecoam. […] Atualmente, o fanatismo do futebol veio para ocupar o lugar reservado para o fervor religioso, ardor patriótico e paixão política. […]
Nunca o mundo foi tão desigual nas oportunidades que oferece e tão igual nos hábitos que impõem!.
Fonte: Pravda.ru
Disponível em (Arquivo completo): <http://www.vermelho.org.br/noticia/244546-10> Acesso em: 24 jun 2014.
Alegro
Milhares de pessoas vão chegando devagar, e, de repente, toda a praça está tomada por esta multidão barulhenta. Está muito escuro e quase não vejo nada. O que não é novidade, devido à minha baixa acuidade visual.
Espaço
No Arco do Triunfo, na Rua Augusta, tem um grande painel com a foto do capitão Salgueiro Maia. Ele está bem ali nesses momentos.

 

RED- HOMENAGEM AO CAPITAO SALGUEIRO MAIA- ARCO DO TRIUNFO- LISBOA- SENHA ABERTA- ELIANE VELOZO cópia


Adágio
Estão todos aqui nesses momentos, inclusive os que estavam juntos nos quatro cantos do mundo, comemorando o “abril” português, em 1974.

4º Movimento
Ouvir Grândola, cantar Grândola
Andante
Já mais de uma da madrugada, todos cantam juntos.
Link:
Cantar “Grândola, Vila Morena”, na Festa dos 40 anos da “Revolução dos Cravos”, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Hw6e6ILMYw4>
Acesso em: 05 jun 2014.
Alegro
Não dá pra descrever. Somente sentir, sentir e sentir novamente.
Espaço
E se toda essa mobilização fosse para mudar, novamente, este país? Se fôssemos em direção contrária ao consumismo?
Adágio
Foram-se os ideais? Quais as novas senhas?

5º Movimento
O dia mais feliz.

Conceito: Felicidade
Qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar.
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.1323).
Adágio
“Aquele foi o dia mais feliz do resto de minha vida!” (depoimento de uma senhora de minha idade, sobre o 25 de abril de 1974.
Alegro
A festa é encerrada com uma chuva de fogos de artifício ao som da “Life On the Ocean Wave”, composto por Bobby Scott, que era usado pelo MFA, cada vez que alguma notícia sobre os acontecimentos da tomada do poder ia ao ar.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SDe2weyiAWw>
Acesso em: 05 jun 2014.
Alegro
Hoje, 40 anos depois, eu ouço essa música e retomo toda a felicidade trazida pelas notícias do “abril”, quando eu, no Brasil, também lutava contra o regime ditatorial brasileiro, e a Revolução dos Cravos nos trouxe um alento pelas possibilidades de democracia.

 

RED= fotos de artificio- terreiro do paço madrugada de 25 de abril de 2014 cópia


Lisboa 25.04.2014 (6ª feira)

1º Movimento
“Todos os rios dão ao Carmo”.
Andante
Chego ao Largo do Carmo às 10 horas da manhã.
Alegro
O largo já está completamente tomado pelas pessoas que responderam ao chamamento das comemorações do “abril”. Eu, com o estandarte, duas câmeras, um gravador, um tripé, e minha carteira internacional de repórter fotográfico, que me ajuda a transitar.
Todas as ruas que dão ao Carmo estão abarrotadas de gente. Gente miúda, gente jovem, gente de meia idade e idosos. Muitas pessoas carregam nas mãos um ou mais cravos vermelhos.
Crianças pequenas, filhas de casais jovens, montadas nos ombros dos pais, carregam cravos, garantindo a importância do “abril” para as próximas gerações.
Espaço
A busca pela felicidade, por uma sociedade melhor e mais justa.
Adágio
Transcorreram 40 anos desde que esse povo, efetivamente, sorriu feliz.

2º Movimento
O discurso de Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de abril (A25A).
Link:
O discurso dos 40 anos do “abril”
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bE70cqM_pyU>
Acesso em: 12 jun 2014.
Andante
Estive nesse momento histórico, compartilhando o Largo do Carmo com o povo português, e com Mário Soares, Manuel Alegre e vários militares do “abril”.
Trechos do discurso de Vasco Lourenço, em 25 de abril de 2014, no Largo do Carmo, em Lisboa:
“Os detentores do poder se assumem, cada vez mais, como herdeiros dos vencidos do 25 de abril de 1974. […] A luta de muitos portugueses, contra a tirania, a opressão e o obscurantismo culminou nessa valiosa jornada, o 25 de abril de 1974, que nos lançou na mais extraordinária aventura que um povo pode viver. […] Foi possível […] reconhecer o direito à autodeterminação dos povos colonizados. […] Esse foi o tempo de todas as esperanças. […]
E hoje assistimos e sofremos na pele a destruição do muito do que de bom se conseguiu. Um retrocesso. […] a destruição do Portugal de abril, e o abrir portas a novas escravidões, à iniquidade, à perda da soberania. […] A democracia não se limita a eleições de quatro em quatro anos. […] Manifestamos a indignação face aos acontecimentos que Portugal vive. […].

3º Movimento
Cantar Grândola
Link:
Cantar Grândola Revolução dos Cravos, 40 anos depois, vídeo de Eliane Velozo, com fotos do dia 25 de abril de 2014, no largo do Carmo, Lisboa.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lFWDAqLXN2A>
Andante
Juntos, cantamos a canção de Zeca Afonso.
Alegro
Todos parecem saber cantar a canção, e à medida que cantam levantam seus cravos vermelhos o mais alto que podem.
Adágio
Percebo uma mistura de alegria e melancolia nas faces de todo o povo. Eu, particularmente, quase chorei de emoção, não sabia o que fazer… as câmeras nas minhas mãos não me deixaram tempo nem espaço para pensar muito.
Link:
Cantar Grândola. Largo do Carmo. 25.04.2014.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Uswf6Tb82x4>
Acesso em: 12 jun 2014.

Conceito: Alegria
Estado de viva satisfação, de vivo contentamento; regozijo, júbilo, prazer
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.147).

Conceito: Melancolia
Estado mórbido caracterizado pelo abatimento mental e físico; grande tristeza e desencanto geral; depressão.
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.1884).

4º Movimento
O estandarte.

Conceito: Estandarte
No projeto Senha Aberta o estandarte simboliza a paz. Formado pelas bandeiras da África do Sul, Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Portugal, Rússia e Vietnã, é o emblema que possibilita a união dos povos desses oito países, que busco nesse caminhar.
Andante
Fotografar o estandarte no Largo do Carmo.
Alegro
Faço fotos do estandarte junto à homenagem ao Capitão Salgueiro Maia, ao pé de uma árvore veterana do “abril”, junto ao povo, ao lado de uma das fotos históricas do “abril” e ao lado de uma instalação que tem uma cruz preta, com um cravo “crucificado”, de autoria desconhecida.
Espaço
Inicio a produção de imagens que faz de minha utopia uma possibilidade.
É o pulsar de muitos corações. Caminho entre a utopia, a realidade e o futuro. É a festa do imaginário.
Adágio
Nessa mesma data, em 1974, eu estava no Brasil, lutando contra a ditadura militar brasileira. Quando a notícia chegou ao Recife, para os movimentos organizados em torno da causa democrática, foi uma enorme festa.

 

RED- ESTANDARTE NO - LARGO DO CARMO- PARA SITE- cópia
Curiosidade pessoal

O pai de minha filha tentou lhe dar o nome de “Rosa Vermelha”, em homenagem à Revolução dos Cravos. Depois de muita resistência de minha parte, considerando que esse nome poderia lhe trazer futuros problemas políticos e de estranhamento de uma cor para nome próprio de pessoa, consegui que escolhêssemos “Janayna”, em homenagem a Leila Diniz, símbolo da luta pelos direitos das mulheres no Braisil, e cuja filha tem esse nome.

Lisboa, 26.04.2014 (sábado)

1º Movimento
Fotografar o estandarte no Terreiro do Paço.
Andante
O Terreiro do Paço, onde se encontrava o Ministério do Exército, foi o palco da rendição do Regimento de Cavalaria 7, que defendia o governo ditatorial.
Alegro
Faço fotos no corredor dos arcos do prédio do antigo Ministério do Exército, em frente ao prédio, e incluindo uma das fotos da exposição comemorativa dos 40 anos do “abril”.
Espaço
Ouço passos e vozes.
Adágio
Sempre idas e vindas a um passado glorioso e em busca de novas utopias intensificando o resgate da esperança.

Conceito: Utopia
Lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos; qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade; projeto de natureza irrealizável; quimera, fantasia
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. ; FRANCO, F. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p.2817).

Sobre utopia, o escritor Eduardo Galeano nos coloca:
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso; para que eu não deixe de caminhar.”

RED =ESTANDARTE NO TERREIRO DO PAÇO- ABRIL DE 2014- PARA SITE cópia


2º Movimento
Viagem para Grândola. Uma hora de comboio.

Grândola, 26.04.2014 (sábado).

1º Movimento
Lançamento de livro.
Andante
Às 17 horas, participo do lançamento, no auditório da Biblioteca Municipal de Grândola, do livro “Mandela, O Rebelde Exemplar”, de António Mateus.
Alegro
O lançamento desse livro, dentro das comemorações dos 40 anos do “abril”, faz um paralelo com meu projeto, pois o Senha Aberta também abrange a questão da luta contra o Apartheid.
Trabalhos sobre liberdade, igualdade, democracia, relações entre raças, religiões, são muito determinantes para minha geração.
Adágio
Significa estarmos todos juntos, vivendo as mesmas realidades, colocando as mesmas ideias sobre a mesa, para, quem sabe, chegarmos a algo melhor. Ou seja, uma “regra do jogo” e para jogá-lo há de se ter consciência global.
Alegro
Mandela, encantado, nos olha de um lugar privilegiado.

Grândola 29.04.2014 (3ª feira)

1º Movimento
Observar a luz do sol na obra de arte pública, de Jorge Vieira, “Monumento à Liberdade”, no centro da cidade, para ver qual o melhor horário para fotografar com o estandarte.
Alegro
Esta obra, em ferro, inaugurada em 25 de abril de 1999,  é a última obra completada pelo autor em vida. Tem linhas retas. Esmeradamente retas, volumes precisos e espaços abertos que criam novas possibilidades. Dá-me a sensação de um totem, relacionado ao trabalho e à liberdade… Essa relação ambígua entre os dois conceitos. Traz um peso e uma leveza que coabitam juntos.

Pauta:  Jorge Vieira (1922-1998)
Escultor eclético. Usou em seus trabalhos, terracota, bronze, aço, ferro e mármore. Seu trabalho tem forte influência da arte “tribal” do continente africano.
Como professor, Jorge Vieira “Na sua primeira aula começava por esclarecer o seu conceito de escultura: pegava numa cadeira que apoiava sobre uma única perna e dizia, ‘isto é uma escultura’, depois pousando-a normalmente acrescentava, ‘isto é uma cadeira’ e dessa forma clara introduzia todo um universo teórico”.
(COIMBRA, P. M. F. A. Jorge Vieira Ofício: Escultor (Tese). Vol. H. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 1999. p.47).
Podemos ressaltar que a “afirmação da carreira do autor, deu-se durante as décadas de 50 e 60. Estes são os anos em que o regime político, numa atitude de autoprotecção, reforça o controlo sobre as forças sociais que se manifestam em sua oposição.” (Obra cit. p.26).
Aproveito, aqui, para ressaltar, outra de suas obras, com a qual trabalharei mais tarde: o Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido.
Projetada em 1953, em formato de maquete, em bronze medindo 445 x 300 x 290 mm, para o Concurso Internacional de Escultura promovido pelo Institute of Contemporary Arts, Londres, onde foi premiada, e integrou, depois, a mostra de artistas premiados nesse certame na Tate Gallery, Londres.
“Os ecos da vitória não se fizeram sentir em Portugal. O tema não agradava a um poder que apoiava a sua segurança na inibição dos direitos e liberdades individuais, que se defendia com uma polícia política institucionalizada e que mantinha sob sua jurisdição várias instituições penais para presos políticos.
O prêmio é muito apropriado para um período político muito complicado, com relação à democracia, em várias partes do mundo, inclusive em Portugal. […] Deste modo, um acontecimento cultural que poderia ter tido importância fundamental para o desenvolvimento da escultura portuguesa, se tornou num tabu para a cultura oficial, e num mito para a vanguarda artística marginalizada.”
(Obra citada. p.56).
Essa mesma maquete participa, também em 1953, da II Bienal de Arte Moderna de São Paulo.
(Catálogo da II Bienal de Arte Moderna de São Paulo – arquivos históricos. 1953. p. 287).
Disponível em: <http://issuu.com/bienal/docs/name24c514>
Acesso em: 05 jun 2014.
Somente em 1994, 20 anos após o “abril”, esta obra foi produzida em Beja, por iniciativa da Câmara Municipal de Beja.
A obra “Propõe pluralidades de análise. […] e de interpretação; As células ora são tidas como os elos de uma cadeia, ora são gaiolas podendo também ser apreendidas como celas, há ainda quem enfatize a sua interrupção brusca como vendo nela o fim das limitações e a inevitabilidade da liberdade etc.“ (Obra citada, p, 62).
Reconhecido publicamente, ele morre, em 1998, com inúmeras encomendas não acabadas ou sem ter, sequer, sido iniciadas.

2º Movimento
Universidade Senior de Grândola (USG).

Pauta: USG
A Universidade Senior de Grândola foi inaugurada em Novembro de 2007, faz parte da Divisão de Ação Social, Cultura e Educação. É o mais recente projeto social criado pelo Município de Grândola e que se destina à população do Concelho com idade igual ou superior a 50 anos.
Mantém cursos regulares de história, artes além de atividades desportivas e culturais.
Andante
Fotografar e entrevistar Maria Isabel Pereira Gonçalves. (001)
Alegro
Encontrei-a, na calçada, mesmo antes da USG reabrir as portas após o almoço. Eu achei que ela era ela, e puxei conversa. Fiquei entusiasmada por encontrar a primeira mulher que será fotografada e entrevistada para o projeto. Ela estava feliz por poder participar.
Espaço
Nós duas, em alguns momentos de nossa conversa, voltamos ao 25 de abril de 1974, e parecia que estávamos lá, falando de um espaço presente-passado-futuro. Vislumbramos uma quebra na fronteira do tempo. Ela se colocou lá, falava de lá, e íamos e vínhamos nos 14.614 dias que vivemos desde o “abril” até hoje. Falava do medo, dos bons tempos que vieram após o “abril”. Mas o afastamento dos ideais do “abril” lhe causam um profundo sofrimento.
Adágio
O pensar transborda de boas lembranças, e de, ainda, esperanças de que tudo volte aos ideais do “abril”. Percebi, às vezes, uma profunda melancolia nos seus olhos, nas suas falas.
As atividades da USG são, para ela, local do encontro.
Alegro
Bons fluidos para o resto do projeto!

3º Movimento
Visita ao “Mural 25 de Abril”, para analisar qual será a melhor hora do dia para fazer as fotos do estandarte.

Grândola, 30.04.2014 (4ª feira).

1º Movimento
Fotografar o estandarte no “Monumento à Liberdade”, de Jorge Vieira.
Andante
Observo essa obra, com profundidade, antes mesmo de montar o meu estandarte. A Dra. Maria Isabel Palma Revez vem me ajudar, e me fotografar fotografando.
Alegro
A obra me parece um misto de festa, quando olho ‘os braços para cima’, e um questionamento, pois os vários braços também são cruzes. Cada vez que a observo percebo mais coisas, penetro mais profundamente.
Sempre me volta a questão do peso do trabalho braçal do ser humano em contradição com a celebração, ou seja, do que está preso, e do que está, irremediavelmente livre.
Espaço
São vários seres humanos, todos com os braços levantados, em luta e festa pela liberdade. Como totem, ele, supostamente nos protege. Mas creio que não é só isso… vejo algo enorme, inalcançável, que concomitantemente nos observa e provoca todo o tempo.
Adágio
Sinto minhas fotos como uma ode à esperança.

Conceito: Esperança
Sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa; fé. expectativa, espera.
(HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva. 2001, p. 1228).

 

RED- TE NO MONUMENTO A LIBERDADE- PARA SITE cópia


2º Movimento
Fotografar o estandarte no Monumento ao 25 de Abril.

Pauta: “Monumento ao 25 de Abril”
Inaugurado a 24 de Abril de 1999. Obra do artista português Bartolomeu Santos (1931-2008).
Formado por uma parede elíptica. No centro há uma área circular onde está gravado um cravo. O conjunto é recoberto de azulejos pintados em azul. Na parte inferior do círculo encontra-se um retângulo com os nomes de muitos dos que participaram na Revolução do “abril”. As paredes dos lados estão decoradas com a pauta musical e a letra da canção “Grândola, Vila Morena”.
A parede posterior encontra-se completamente tomada pela “Declaração Universal dos Direitos Humanos”
Andante
A “Declaração Universal dos Direitos Humanos”:
Disponível em: (é necessário copiar e colar o link abaixo) <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>
Acesso em:12 jun 2014.
Em áudio:
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eY55ByGw8_c>
Acesso em: 12 jun 2014.
Alegro
O lado do mural que vou fotografar agora, iluminado pelo sol, é onde se encontra a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
Busco fazer algumas fotos em partes do texto, levando em conta que uma foto com o texto completo, não é possível, com o tipo de equipamento que uso, por falta de distanciamento suficiente entre mim e a obra.
Emociono-me ao ver essas palavras escritas no muro. O estandarte está ali, majestoso, íntegro, na busca maior.
Essa foto passa a ser um ícone do projeto.
Espaço
Em todas as cidades do mundo deveria haver um muro, uma parede, alguma coisa onde todas as pessoas pudessem ler a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, para tentar fazer com que todos percebam que ela existe… e talvez, para dar real existência a ela, buscar as possibilidades de ela transpor os papéis, as leis, e vir para o campo da realidade, que somente o povo, exercendo plenamente seus direitos e deveres, torna-se capaz de garantir.
Adágio
Onde, na atual conjuntura da humanidade, os direitos humanos são respeitados em sua totalidade?

3º Movimento
A obra pública em homenagem a Zeca Afonso.

Pauta: O “Monumento a Zeca Afonso”, em Grândola, no Jardim 1º. de maio
Foi inaugurado em 23.04.1999.
Seu autor, António Trindade (1936 -) é licenciado na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. De 1972 a 1975 foi docente de tecnologias da pedra, dos metais e dos polímeros na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Entre 1985 a 1987, fez parte do Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Cultural.
Tem executado trabalhos em pedra, cobre, bronze, ferro e aço.
Dentre as suas obras destacam-se o Monumento a Zeca Afonso em Grândola.
Andante
Fotografo o estandarte junto à obra, em várias posições.
Alegro
É uma peça muito vertical. Vejo asas a voar. O rosto de Zeca Afonso, ao centro, pode ser visto praticamente em todos os ângulos da obra.
Espaço
Zeca Afonso é o poeta-andarilho-cantor, que a Revolução dos Cravos transformou em mito, quando sua canção “Grândola, Vila Morena” foi usada como senha, aos vinte minutos do dia 25 de abril de 1974, para que as tropas do MFA saíssem às ruas.
Adágio
Seria maravilhoso ele aqui. Ou será que ele está aqui? Claro!

4º Movimento
“Monumento ao 25 de abril”
Andante
Retorno à tarde ao mural, para fazer as fotos do estandarte no lado onde agora bate a luz do sol.
Alegro
Nesse momento tenho a preciosa ajuda da Dra. Maria Isabel Palma Revez, que vem, com prazer, me ajudar. Fico, todo o tempo, brigando contra o vento que insiste em derrubar meu estandarte. Vou fazendo ele trabalhar a meu favor. Aliás, este tem sido um problema técnico, pois sei que não posso adicionar nada pesado para facilitar a permanência dele em pé, pois acrescenta mais peso à bagagem que tenho que carregar quando faço fotos do estandarte.

RED- ESTANDARTE NO MONUMENTO AO 25 DE ABRIL - GRANDOLA cópia
Alegro
A companhia para fazer essas fotos acrescenta novos valores humanos ao projeto. Também coopera no laborar físico, por ser uma trabalheira montar tudo, fotografar, desmontar… sem falar no “interagir” acrescentado pela participação de outra pessoa no meu processo de trabalho… estou muito solitária.

Grândola, 02.05.2014 (6ª feira)

1º Movimento
Reunião com Dra. Maria Isabel Revez, para resolver algumas pendências.

2º Movimento
USG
Andante
Pesquisa nos arquivos da USG, com ajuda do professor Andréas Manuel Wolf Sobral, para localizar as mulheres nascidas em 1952.
Alegro
Nesta minha segunda pesquisa, decido flexibilizar a data de nascimento das mulheres a serem entrevistadas e fotografadas para o projeto. Isso resulta de um profundo processo de análise da situação, especialmente quando penso nos outros países onde vou desenvolver o projeto. Então, resolvo procurar mulheres nascidas entre 1950 e 1954. Assim, centralizo no ano de 1952. Entratanto continuarei dando preferência às nascidas neste ano.
Espaço
A diferença de idade entre as mulheres ainda possibilita terem partilhado as mesmas experiências no período a que se refere o projeto.
Adágio
Flexibilizo o trajeto para a utopia.

3º Movimento
Conversa, via skipe, com a jornalista Otilia Leitão, para definir data de ida à Lisboa para fotografar e entrevistar algumas mulheres, além dela própria, nascida em 1952.

4º Movimento
Fundação Mário Soares.
Andante
Contato com esta Fundação, na tentativa de encontrar alguma mulher portuguesa que tenha fotografado as lutas de democratização de Portugal e o abril de 74.
A resposta veio muito rapidamente: “Não consta em nossos arquivos e não é de nosso conhecimento”.

Grândola, 03.05.2014 (Sábado)

1º Movimento
Procurar uma costureira.
Andante
Busco alguém que possa me fazer um cravo vermelho, em tecido, ou outro material.
Alegro
Encontrei uma casa de costura, onde trabalham duas mulheres jovens, uma costureira e a outra crochezeira. A que costura me diz: “Nunca fiz! Mas gosto de desafios. Vou fazer sim!”.
Adágio
A crochezeira, senhora Maria Manuela Santos, vai fazer os cravos…
Ela se parece comigo, gosta de desafios!

2º Movimento
Concerto musical.
Andante
Concerto, no Cine Grandeiro, com a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG).

Pauta: A SMFOG
A Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense – conhecida como Música Velha – foi fundada em 01.04.1912. “Os seus primeiros Estatutos foram redigidos por um operário corticeiro.
A SMFOG é vocacionada para a cultura e a educação musical, tendo por fim a promoção, a formação e o desenvolvimento cultural e recreativo dos seus associados, visando a sua formação humana e integral. […] Música Velha foi, durante o período de repressão do Estado Novo, um grande pólo de reunião, de discussão de ideias e de luta pela democracia e liberdade das gentes de Grândola. José Afonso, convidado para participar nos festejos do 52º Aniversário da colectividade (17 de Maio de 1964) ficou de tal maneira impressionado com o ambiente fraterno e solidário que se respirava na colectividade que, três dias depois de aqui ter estado, escreveu a primeira versão do poema “Grândola Vila Morena”.
Disponível em: <http://www.smfog.pt.vu/>
Acesso em: 08 jun 2014)
Alegro
O auditório do cinema estava praticamente lotado. A banda conta com muitos jovens e também com alunos veteranos do período do “abril”.

Sons do projeto

Revolução dos Cravos 40 anos, Banda da SMFOG Toca Grândola, Vila Morena. Vídeo de Eliane Velozo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=STaH04dmirc>
Acesso em: 02 jul 2014.

Banda da SMFOG toca a Marcha do MFA (Life On the Ocean Wave, de Boddy Scott). Vídeo de Eliane Velozo.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SZeIswu0cqU>
Acesso em: 02 jul 2014.
Alegro
“Recorrer à memória é se deter no passado, mas a partir dele, lançar um olhar sobre o presente e o futuro” (Magazi do Nascimento Cunha).

Grândola, 05.05.2014 (2ª feira)

1º Movimento
Reunião com a Diretora da Educação.
Andante
O encontro é sobre questões referentes ao workshop “Processos criativos”, que foi acertado para os professores e educadores de Grândola..
Adágio
Sinto que o workshop não vai acontecer.

2º Movimento
Reunião com Maria de Fátima, Presidente da Junta de Freguesia de Grândola e Santa Margarida da Serra.
Andante
Continuo minha intensa busca a mulheres para o projeto.
Alegro
Ela, muito simpática, me chama de “minha amiga brasileirinha”.

3º Movimento
Ida à USG para fotografar.
Andante
Hoje temos hora marcada para nova seção de fotos, na USG.
A Professora de artes, Raquel Maria de Campos Matos Idanha Figueira Gorgulho Santos envolveu-se no projeto, e tenta encontrar as mulheres, testemunhas vivas, a serem fotografadas e entrevistadas para o projeto.
Alegro
Fotografo e entrevisto Maria Deolinda Celourino da Cruz Paulo (002).
Ela veio por chamado da professora Raquel, sem saber muito bem o que vinha fazer. É bem humorada, aceitou o proejto, e conversamos muito. Ela fala, com orgulho, que mora no ‘mato’, ou melhor, em um sítio, com galinhas, coelhos e que come tudo sem químicos.
Espaço
Lembra-se de um sonho que não pode mais ser sonhado. Fala da esperança sem esperança. Eu contraponho com a ideia de novas possibilidades. Não mais as antigas, mas alguma possibilidade nova.
Adágio
Recorda o fascismo, as dificuldades e o silêncio da época… mas reconhece que hoje as coisas estão muito difíceis. Chega até a questionar sobre o que realmente está melhor, algumas vezes com interrogações, outras vezes com afirmações contraditórias.

4º Movimento
Uso da internet na Biblioteca Municipal de Grândola.
Andante
Adquiri um moldem de internet sem fio, mas ele não funciona muito bem, e por isso uso a internet da biblioteca, pelo menos em alguns horários em que estou na rua, e com o computador na mochila.
Alegro
Pesquisas sobre: Zeca Afonso, a Prisão Forte de Caxias, todas as músicas do projeto etc.

Grândola, 06.05.2014 (3ª feira)

1º Movimento
À sombra de uma azinheira.
Andante
Fotografar o estandarte ‘à sombra de uma azinheira’, como nos coloca a música de Zeca Afonso.
Alegro
Fomos eu, Isabel Revez e Daniela Souza, em carro da CMG, na estrada, em busca de uma azinheira. Chegamos a um campo florido de pequenas flores amarelas, à beira da estrada.
Ali está uma azinheira, “que já não sabe a idade”. Uma não, melhor ainda, duas, uma ao lado da outra!
Espaço
Imagino Zeca Afonso sentado em baixo da árvore, criando sua canção… no meio de todas essas flores amarelas. Ele fez o poema no período da primavera.
Esses são momentos ímpares da minha vida preciosa.
Também faço o meu pacto com as azinheiras.

RED- Á SOMRA DE UUMARED- AZINHEIRA cópia

Adágio
Saudades de algo não vivido… ou melhor, vivido por outros, pelos meus “pares”. “Eu tenho tantos irmãos que não os posso contar”.

2º Movimento
Fotografar o estandarte junto à obra de Rosário Fonseca, nas exposições da Biblioteca Municipal de Grândola.
Andante
Estão montadas as Exposições ‘25 de Abril: 40 anos de poder local’ e ‘25 de Abril: 40 anos, 40 imagens’.
Alegro
Essas mostras são muito importantes do ponto de vista da elaboração dos conceitos do “abril”, pelas novas gerações de Grândola, que regularmente visitam a biblioteca.
Alegro
A obra de Rosário Fonseca, aqui exposta, junto à qual fotografo o estandarte, trata-se de uma uma instalação composta de 100 cravos vermelhos feitos em cerâmica. Olhando a obra, penso sobre a necessidade de plantar cravos vermelhos em todos os lugares… com persistência.
Segundo Rosário Fonseca, a obra nos sugere “manter viva a liberdade”.

RED -OBRA DE ROSARIO FONSECA E MONUMENTO A JOSE AFONSO cópia
3º Movimento

USG
Andante
Fotografar e entrevistar dona Maria Joaquina Lança Louro. (003)
Alegro
Às duas da tarde, estávamos as duas lá, esperando que a USG abrisse as portas. Admiro seu bom humor. Juntas, demos boas risadas. Vamos ao passado e voltamos de lá.

RED- MATRONIMIA - 001 A 003
Espaço
Uma utopia: que a vida mais abastada signifique uma vida mais comunitária.
Adágio
Saudades do que já não mais existe.

“Saudade é nossa alma dizendo para onde quer voltar”. (Rubem Alves);

4º Movimento
Viagem de comboio, de Grândola à Lisboa.

5º Movimento
Chegada, de taxi, à casa da Jornalista Otília Leitão, que me recebe, para estadia durante três dias. Juntas, iremos ao encontro de algumas mulheres a fim de fotografá-las e entrevistá-las.
Alegro
Ela e Mário de Carvalho, seu marido, também jornalista, e seu filho Fred, me recebem muito bem. Conversamos sobre os mais diversos assuntos, tais como: ditaduras, colonialismo, imperialismo e, também a atualidade.

Lisboa, 07.05.2014 (4ª feira)

1º Movimento
Fotografo e entrevisto Lourença Semedo. (004)
Andante
Lourença nasceu no Cabo Verde e chegou em Lisboa em 1974. Deixou três filhos com a mãe, no Cabo Verde, e fez mais três, em Lisboa.
Alegro
Ela agora está aposentada, “Reformada”, como se fala em Portugal, após ter trabalhando em ‘casas de família’, e em uma fábrica beneficiadora de peixe.
Espaço
Acreditou que a vida em Portugal seria melhor do que em Cabo Verde, colônia portuguesa na época.
Sua utopia da casa própria está realizada, pois tem apartamento em conjunto de ‘moradia social’, em Lisboa.
Adágio
Ela ainda se questiona se deveria ter deixado os filhos no Cabo Verde, apesar de considerar que hoje estão todos bem estabelecidos.

Pauta: Por que incluir mulheres de ex-colônias portuguesas em um projeto que trabalha o “abril” português?
Portugal manteve sob seu colonialismo, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde, até pouco tempo depois do “abril” de 1974. Portanto, essas mulheres, forçadas a ser parte do império colonial português, têm suma importância para o projeto Senha Aberta.

Pauta: Resumo sobre o mundo colonial português

Países Data de libertação Liderança reconhecida internacionalmente

Angola – 10.11.75 – Agostinho Neto.
Cabo Verde – 05.07.75 – Aristides Pereira.
Guiné-Bissau – 21.09.73 – Amilcar Cabral. Assassinado pela PIDE (20.01.1973). Substituído por Luis Cabral. (Independência reconhecida por Portugal após o “abril”).
Moçambique – 25.06.75 – Samora Machel.

2º Movimento
A Prisão Forte de Caxias.

Pauta: A Prisão Forte de Caxias
Pertence ao conjunto de presídios políticos que davam suporte ao longo e doloroso processo de silenciamento das opiniões contrárias ao regime salazarista, dentre as quais, aquelas favoráveis à libertação das colônias portuguesas do continente africano.
Presídios políticos portugueses:
Aljube; Caxias; Peniche; Prisão da PIDE no Porto; Tarrafal, na ilha de Santiago, no Cabo Verde (campo de concentração e morte, desde a época do nazismo).
Andante
Não conseguimos entrar e nem fotografar o estandarte em frente ao presídio de Caxias.
Alegro
Estávamos juntos eu, Otília e Mário de Carvalho, que carinhosamente nos levou, de carro, para todos os lugares que precisávamos ir.
Depois de ser incentivada a fazer uma foto mesmo sem o estandarte, eu, obediente que sou, faço mesmo… faço várias fotos pelo lado de fora do presídio.
Otília foi uma das pessoas que estiveram na frente do presídio na noite de 26 de abril de 1974, para receber, do lado de fora, os presos políticos que estavam sendo libertos.
Espaço
Eu havia me imaginado pelo menos fotografando o estandarte na frente do presídio.
Adágio
É um lugar frio e distante: a foto não feita. Sobre as prisões políticas da ditadura portuguesa, podemos encontrar várias informações, entre elas as disponíveis em: (é necessário copiar e colar o link abaixo) <http://pt.slideshare.net/ESLFBHISTORIA/prises-polticas-do-estado-novo>
Acesso em: 27 jun 2014.

3º Movimento
Fotografar e entrevistar Elisa Ferreira Vaz. (005)
Andante
Elisa Ferreira Vaz é angolana. Nós nos encontramos, eu, Otília e ela no café da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa.
Alegro
Elisa Vaz passou a vida inteira lutando pela libertação, democratização e pacificação de Angola.
Espaço
Ela considera sua utopia realizada, no que se refere às lutas políticas de Angola. Diz que a nova Constituição de Angola é totalmente adaptada à realidade angolana, embora tenha se inspiado na Constituição do Brasil e na da África do Sul.
Adágio
Durante a entrevista, enquanto ela relata, vagarosa e longamente, as lutas do povo angolano, eu me emocionei e fiquei com os olhos rasos d’água.

4º Movimento
Livraria.
Andante
Ida à FNAC, em busca de livros e discos sobre o “abril”.

Lisboa, 08.05.2014 (5ª feira)

1º Movimento
Fotografar e entrevistar Otília Leitão. (006)
Andante
Faço as fotos com a luz matinal que entra na sala da casa dela.
Alegro
Otília trabalhou como jornalista, correspondente portuguesa, em várias ex-colônias portuguesas no continente africano.
Ela está de cabelos arrumados e toda aminada com as fotos. Após me elevar à categoria de “irmã brasileira”, ela praticamente toma pra si a ideia do projeto e mostra-se feliz em poder participar.
Espaço
A realidade atual da vida na Europa, sempre colocada em contraponto às lutas pela democratização do país no “abril”, apresenta-se como tema principal de suas falas.
Adágio
Numa reavaliação dos ideais do “abril”, ela, que participou ativamente das lutas de então, tem sempre uma saudade, enraizada no fundo do peito, daqueles dias de esperança através das conquistas democráticas.

RED- MATRONIMIA - 004 A 006


2
º Movimento

Com Otília e Mário.
O resto do dia de folga. Comer galinha assada.
Andante
Por falta de algumas mulheres que esperávamos fotografar neste dia, saímos a passear. Visita a Cascais, Sintra e outras paragens do litoral português, próximas de Lisboa.

3º Movimento
Ida à livraria e à loja de discos.
Alegro
Aquisição de “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.

Pauta: O livro ‘Novas Cartas Portuguesas’
“Escritas em 1971 e publicadas em Abril de 1972, com a direcção literária de Natália Correia que publicou a obra na integra sob a chancela dos Estúdios Cor, as Novas Cartas Portuguesas foram recolhidas do mercado e destruídas, 3 dias após o seu lançamento sob o pretexto e a acusação por parte da censura de que o seu conteúdo era ‘insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública.’ […] Perseguidas e julgadas em Portugal, as três autoras e a sua obra foram amadas e acarinhadas especialmente pela Europa e pelos Estados Unidos reunindo uma solidariedade da comunidade literária portuguesa e estrangeira.”
O livro somente foi publicado, novamente, em Portugal, em 2014.
Disponível em: <http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/3644-novas-cartas-portuguesas-o-que-podem-as-palavras>
Acesso em: 10 fev 2014.

Lisboa, 09.05.2014 (6ª feira)

1º Movimento
Viagem de comboio, de Lisboa a Grândola. Saída às 14h.29min. Chegada uma hora mais tarde.

2º Movimento
Grândola, abertura de exposição.
Andante
A exposição “José Afonso, andarilho, poeta e cantor”, montada nos antigos Paços do Concelho de Grândola.
Alegro
A exposição sobre a vida e a obra de José Afonso, contou com a presença de Zélia Afonso, viúva de Zeca Afonso, do Executivo Municipal, da Associação José Afonso e da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG), além de parcela significativa da sociedade da cidade.
Segundo a Associação José Afonso, “A Exposição teve como suporte documental livros, entrevistas na imprensa e gravações que José Afonso concedeu. Foi através da sua palavra que se procuraram as referências e os comentários que acompanham as fotografias. Foram particularmente importantes nesta recolha uma entrevista gravada com Luís Filipe Rocha, em 1983, e o livro de José Salvador, ‘Livra-te do Medo‘”.
Disponível em: <http://e-cultura.sapo.pt/NoticiaDisplay.aspx?ID=5272>
Acesso em: 09 jun 2014.

Pauta: Associação José Afonso (AJA).
“Formada em torno da memória e do exemplo de José Afonso, evocado no dia da apresentação pública ocorrida em 18 de Novembro de 1987 […]
Enquanto artista-militante, expoente de cultura aberta e universalizante, combatente de todas as causas verdadeiramente solidárias, como Homem, enfim. Na sua dimensão exterior, mas também na intimidade dos seus muros.
Na irmandade activa com os humilhados, na sintonia com as aspirações dos povos à libertação total, nessa luta, em suma, a que nunca virou a cara; mas, igualmente, no crítico alertar contra as formas mais subtis de servidão das inteligências, no esforço de superação criativa, no horror à hipocrisia intelectual geral, na sua grande fraternidade, na suprema tolerância de espírito, inquieto, insatisfeito, permanentemente auto-questionador.”.
Disponível em: <http://www.aja.pt/quem-somos-aja/#sthash.Z1AuHpsj.dpuf>
Acesso em: 10 jun 2014.
Espaço
Zeca está ali, em cada uma de suas falas, fotos etc. Há uma ternura enorme no ambiente da exposição.
Adágio
Como seria conversar com ele hoje, após 40 anos que sua canção virou hino do “abril”?

3º Movimento
Compra do livro “José Afonso, andarilho, poeta e cantor”, produzido pela Associação José Afonso.
Alegro
Trechos do livro – palavras de Zeca Afonso: “[…] só gosto de falar de mim enquanto me envolvo em acontecimentos e evoco pessoas […]. (p.13) “Às vezes me pergunto o que me ficou de todas essas passagens por África e por Coimbra e por outros lados. Sou, no fundo, fruto de muitas gentes, de muitos lugares, de muitos dissabores.” (p. 15). “[…] vejo uma espada de sombra esguia […]” (p. 27-28). “[…] puseram-me a ferros soltaram o cão mas tive o diabo na mão […]” (p. 43-44). […] “ó terras secas do sossego […]” (p. 44-45). “[…] Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. […]” “[…] Cantai bichos da treva e da opulência a vossa vil e vã magnificência […]” (p. 67-68).

4º Movimento
Lançamento de livro
Andante
Lançamento do livro “Zeca Afonso – Livra-te do Medo”, de José A. Salvador, na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense.
Alegro
Percebo uma compreensão da necessidade de obras relacionadas ao “abril”. Algumas delas estão sendo lançadas nesse aniversário de 40 anos do “abril”.
Adágio
Se fosse possível juntar as pessoas e os tempos, em um único tempo, nós suportaríamos essas realidades? Essa complexidade faz com que o distanciamento dos fatos, nos tempos e no lugares, nos eleve a uma categoria de observadores, com novas formas do ver, novas maneiras do sentir e do perceber.

Grândola 10.05.2014 (sábado)

1º Movimento
Encontro de corais, no Cine Grandeiro.
Andante
Encontro dos Corais do Alentejo, onde se apresentam três corais, dois masculinos e um feminino.
Alegro
O canto alentejano está candidato a “Patrimônio Imaterial da Humanidade”.
“O antropólogo Paulo Lima, membro da comissão científica da candidatura, contou à agência Lusa que este é ‘um momento de alegria’ que marca a formalização, ‘não da fase final, mas do passo zero’ para a potencial inscrição do canto alentejano na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Apesar de a decisão da UNESCO ser revelada apenas durante o mês de Dezembro de 2014, o responsável está confiante em relação ao parecer. Paulo Lima acredita que a candidatura será aprovada, tendo em conta que este já é ‘um património do homem e do mundo’. O responsável defende que o canto alentejano ‘é uma expressão tão rica, forte, intensa e tão vivida que tem todas as condições, intrínsecas e extrínsecas’, para obter o ‘selo institucional’ da UNESCO”.
Disponível em: http://boasnoticias.pt/mobile/noticias.php?id=15111
Acesso em: 12 jun 2014.
Alegro
Encontramos vários vídeos sobre o canto alentejano, entre eles o Grupo Coral e Etnográfico COOP de Grândola.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2GQsI86dSrI>
Acesso em: 29 jun 2014.
Espaço
Um mundo à parte. O canto do homem rural… o canto do retorno para casa após um dia de trabalho no campo. Cantam a amizade, a terra, o trigo, o pão, a vida em relação ao outro. Este canto nos coopta. Vai no âmago de questões hoje discutidas sobre o agronegócio.
Adágio
Há um misto de alegria e de saudade.
O trabalho na terra para os grandes poderosos do capital não será cantado!

Beja, 11.05.2014 (domingo)

1º Movimento
Conhecer a cidade.
Andante
A cidade tem boa parte do seu patrimônio arquitetônico muito deteriorado, entretanto, existem alguns lugares bem conservados, tais como, a Judiaria e a Mouraria.
Alegro
Encontro uma instalação sobre o “abril”, feita por alunos de escolas da cidade e a obra de arte pública “Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido”, de Jorge Vieira. (Referência a esse autor a obra no dia 29.04.2014, deste diário).

Grândola, 12.05.2014 (2ª feira)

1º Movimento
USG.
Andante
Fotografar e entrevistar Isaura Maria Lopes Mendes. (007)
Alegro
Ela se mostra amigável, e faz uma análise interessante sobre o funcionamento político e social do país.
Adágio
Comenta a distância entre os ideias do “abril” e a atual conjuntura.

2º Movimento
USG.
Andante Fotografar e entrevistar Isabel Maria Gonçalves Borges. (008)
Alegro
Fotografar essas mulheres é um prazer. Elas são sempre muito amigáveis. Sentem-se alegres em poder participar do projeto, especialmente por se identificarem com uma mulher da mesma geração que elas.

RED- MATRONIMIA- 007 A 008.pbm


Adágio

Isabel Borges relaciona toda sua memória e sua esperança às questões familiares. Sempre um misto de tristeza nos depoimentos sobre a memória… e grandes interrogações sobre as esperanças.
Andante
Eis a tarefa mais árdua da primeira afinação do Senha Aberta: localizar as mulheres a serem fotografadas e entrevistadas. Preciso fazer com que essa parte do projeto flua melhor nas próximas afinações, pois essa busca foi uma tarefa muito desgastante e me tomou um tempo considerável.
Apesar de eu ter divulgado bastante essas busca por mulheres, e de ter tido algumas preciosas colaborações, necessito de mais articulações antes de chegar aos próximos países.

Grândola, 13.05.2014 (3ª feira)
Viagem ao Porto.
De 13 a 15.05.2014 (3ª. a 5ª. feira) Porto e Lisboa, para lançamentos do livro Sonho Branco – Trilogia, com palestra “Processos Criativos”.

Lisboa, 16.05.2014 (6ª feira)

1º Movimento
Viagem de Lisboa à Grândola.

Grândola, 16.05.2014 (6ª feira)

1º Movimento
Pegar os cravos vermelhos, feitos de croché, por Maria Manuela Santos.
Alegro
Estão lindos!

2º Movimento
Trabalho interno. Organizando um pouco a vida. Arrumando a bagagem.

Grândola, 17.05.2014 (sábado)

1º Movimento
Biblioteca Municipal de Grândola.
Andante
“1°. Ciclo de conversas de 2014 – Olhares cruzados sobre o 25 de abril – O papel das canções de intervenção”, com participação de Rubem de Carvalho, Julio Madeira e Manuel Deniz Silva.
Alegro
Essa conferência tem relação direta com meu projeto Senha Aberta, pois a base de inspiração do mesmo são as músicas, que em Portugal são chamadas de “Músicas de intervenção”.

2º Movimento
Senha Aberta.
Espaço
Apresentação do projeto Senha Aberta na programação acima citada.
Alegro
Faço um resumo conciso acerca do projeto, de seus objetivos e das atividades na minha residência artística em Grândola. Para mim, este momento significou a possibilidade de colocar em discussão as questões do projeto Senha Aberta, sua importância no contexto atual, e suas possibilidades para o futuro.
Adagio
O ideal teria sido expor publicamente o projeto nos primeiros dias em que aqui cheguei, porque isso tornaria mais fácil encontrar as mulheres a serem fotografadas e entrevistadas.

3º Movimento
Lançamento de livro.
Andante
Lançamento do livro “Grândola, Vila Morena – A Canção da Liberdade”, de Mercedes Guerreiro e Jean Lemaître.
Alegro
Esse livro é produto de um longo período de pesquisa e produção. Os autores concretizam um amplo desejo de conhecimento sobre os bastidores da canção do “abril”.
Espaço
Jean Lemaître fala, em especial, sobre a necessidade de sabermos que as lutas não são localizadas, e que há um enorme trabalho a ser feito para unir todos na direção da mudança dos rumos da humanidade, e conclama a todos a se unirem nessa luta contra a ditadura dos poderosos do capital.
Adágio
Faço questão de participar dessa luta.
Espero que o Senha Aberta contribua para o aprofundamento desses questionamentos.

4º Movimento
Entrega de relatório e despedidas.
Andante
Encontro com o Presidente da Câmara Municipal de Grândola, e com a Vereadora da Cultura, para entrega do meu relatório e minhas despedidas.
Alegro
Agradeço imensamente toda a atenção disponibilizada pela CMG, cedendo estrutura e funcionários.
Espaço
O Presidente da Câmara recebeu como preciosidade o meu relatório. Eu me senti plantando uma semente.
Adágio
Fico um pouco melancólica ao dar início a essa fase de despedidas, pois como diz Sebastião Salgado: “Depois de uma semana fotografando, o lugar passa a ser a sua casa”.

Grândola, 18.05.2014 (domingo)

1º Movimento
Viagem de Grândola à Beja.

2º Movimento
Em Beja. Fotografar o estandarte na instalação dos estudantes sobre o “abril”.
Andante
Ao chegar, em Beja, vou diretamente para o Jardim da cidade, onde se encontra a instalação.
Alegro
O sol está de rachar. Tenho dificuldades de iluminar os cravos da instalação e o estandarte ao mesmo tempo, devido à posição entre eles.
Espaço
Muitos homens idosos passeiam e conversam no jardim. Alguns chegam junto, olham o estandarte, olham-me e me fazem perguntas.
Adágio
É um prazer conversar com eles, pois têm um grande interesse sobre o que está acontecendo. Será que a maioria deles fez parte, de algum modo, do trabalho nas colônias e/ou das guerras coloniais, como era comum antes do “abril”?

3º Movimento
Fotografar o estandarte na obra “Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido”, de Jorge Vieira.

Pauta: Sobre essa obra, ver, neste diário, as anotações do dia 29.04.2014.
Andante
Primeiro observo a área, para ver a luz do sol. Volto mais tarde, com a luz no lugar onde eu precisava dela.

RED- BEJA- MONUMENTO AO P POLITICO DESC. E INSTAL~ÇAO DE ESTUDANTES cópia
Alegro
É uma tarefa psicologicamente árdua fotografar uma obra de tamanha envergadura, pois a importância dessa obra está no fator “desconhecido”. Creio ser incalculável o número de prisioneiros políticos desconhecidos que poderíamos nominar durante a história da humanidade.

Espaço
Haveria possibilidade de listar os prisioneiros políticos desconhecidos da igreja católica e de outras religiões; das invasões a culturas e países; das tomadas de poder ilegítimas etc?
Adágio
Uma tira de papel, com todos esses nomes arrodearia a Mãe Terra quantas vezes?

Grândola, 19.04.2014 (2ª feira)

1º Movimento
Despedidas.
Andante
Vou me despedir das costureiras, do pessoal do restaurante “Coutada” – que fez a comidinha como eu pedi, durante todos os dias em que aqui almocei –, da moça da papelaria, do pessoal da loja de eletrodomésticos, do pessoal da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal. Não consegui me despedir do pessoal da biblioteca, mas deixei beijinhos.

2º Movimento
Almoço
Andante
Vamos comer sardinhas. Eu, Isabel Revez e Maria José Vasques.
Alegro
Comemos bem umas 10! Aqui, assam-se as sardinhas na churrasqueira com escamas e vísceras… quem quer tira tudo isso no prato.
Adágio
Vou ficar com saudades das sardinhas não comidas.

3º Movimento
Conhecer outros lugares de Grândola.
Andante
Passeio turístico.
Alegro
Fomos, nós três, a um passeio turístico. A ideia era mostrar-me o litoral. Visitamos Tróia – um grande empreendimento turístico –, uma pequena aldeia, que em dias de festa todo o povo almoça junto, na praça da cidade, onde permanecem enormes mesas e bancos de madeira.
Visitamos, ainda, a Igrejinha de Nossa Senhora da Penha.
Uma delícia de passeio.
Espaço
Estava louca pra ver algumas fotos que fiz nesse dia, mas algo aconteceu com o cartão de memória e as perdi.

4º Movimento
Presentes.
Alegro
Recebi, através de Maria José Vasques e da Dra. Maria Isabel Revez, uma sacola cheinha de livros maravilhosos, de escritores e poetas de Grândola, ou que se referem à Grândola ou à Revolução dos Cravos. Amei!

5º Movimento
Despedidas.

Grândola, 20.05.2014 (3ª feira)

1º Movimento
Viagem de volta.
Andante
Saída de Lisboa às 16h.40min.
Alegro
O Sr. João me leva, em um carro da CMG, ao aeroporto de Lisboa.
Adagio
Não é bom abandonar essa nova casa. Contudo, é bom estar indo para casa.

Lisboa, 20.05.2014 (3ª feira)

Vou-me, mas voltarei
Findo o período de residência artística
em Grândola,

a Vila Morena,
vou-me, mas voltarei.
Física ou espiritualmente,
voltarei.
Ou talvez nunca irei completamente,
pois um pedaço de mim
fica.

Recife, 20.05.2014 (3ª feira)

Chegada ao Recife, às 20h10min.

Belo Horizonte, 13.06.2014 (6ª feira)

Fechamento da Primeira Afinação do projeto Senha Aberta, em Portugal.
Alegro
O projeto fluiu bem em Grândola, a Vila Morena.
As pessoas sentiam-se felizes em me receber, conversar comigo, ajudar, e de alguma forma participar do projeto. Senti fraternidade e amizade nas pessoas que encontrei. Em todos os momentos elas compreenderam a importância de minha residência artística em Grândola. A moradia foi confortável.

As maiores dificuldades relacionam-se a:
– A bagagem do estandarte: sempre tinha que escolher o que ia fazer, pois não conseguia carregar muitas coisas e equipamentos ao mesmo tempo.
– Ter companhia para algumas atividades, e diminuir a solidão, apesar de saber que, muitas vezes, estar só é necessário no meu processo criativo.

Essa afinação está satisfatória. Para as próximas vou tentar vencer essas dificuldades.

O estandarte é como uma seta que se coloca firme e majestosa nos lugares com os quais sonhei. Dedico essa afinação a todas as pessoas que acreditam no sonho.

Gratidão:
Agradeço às pessoas que possibilitaram esse trabalho, e em especial: Zeca Afonso, que fez a música que me propiciou alento durante a ditadura militar brasileira, e continua causando grande alegria a tantas pessoas que lutaram e lutam contra regimes opressores;
Sr. Antônio Jesus Figueira Mendes, Presidente da Câmara Municipal de Grândola;
Maria de Fátima Serralheira dos Santos Luzia, Presidente da Junta de Freguesia de Grândola e Santa Maria da Serra;
Sra. Carina de Jesus Faustino Batista, Vereadora da Cultura;
Dr. Maria Isabel Palma Revez, parceira incondicional de minha residência artística;
Biblioteca Municipal de Grândola;
Universidade Senior de Grândola, em especial ao professor Andreas Manuel Wolf Sobral e à professora Raquel Maria de Campos Matos Idanha Figueira Gorgulho Santos;
Maria José Vasques, pelo carinho na preparação de minha chegada;
Pedro Sardinha;  Daniela Souza; Maria Manuela Santos, que fez, pra mim, quatro cravos vermelhos, em croché.
Mulheres fotografadas e entrevistadas, que se dispusseram, com afeto, a participar da matronimia do projeto Senha Aberta: Isabel Pereira Gonçalves, Maria Deolinda Celourino da Cruz Paulo, Maria Joaquina Lança Louro, Lourença Semedo, Elisa Ferreira Vaz, Otília Leitão, Isaura Maria Lopes Mendes e Isabel Maria Gonçalves Borges; Café e Restaurante Coutada, que fez meus pedidos de almoço de forma muito especial; Povo de Grândola, terra da fraternidade, onde em cada esquina encontrei um(a) amigo(a), sempre pronto(a) a colaborar.
Marta Velozo, que, no Brasil, revisou comigo todo este trabalho.

Livros adquiridos, ou ganhos, na Primeira Afinação do Projeto Senha Aberta:

Novas Cartas Portuguesas – Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Org. Ana Luísa Amaral. Lisboa, Ed. Dom Quixote, 2014.
1974 – O ano que Começou em Abril – António Luís Marinho e Mário Carneiro. Coleção Temas e Debates. Lisboa, Círculo de Leitores, 2014.
25 de abril – 40 anos – António Costa Pinto. Lisboa, ETT (Correios de Portugal), 2014.
Grândola, Vila Morena – A Canção da Liberdade – Mercedes Guerreiro e Jean Lemaître. Lisboa, Colibri, 2014.
Mandela – O rebelde exemplar – António Mateus. Lisboa, Planeta, 2013.
No Limite da Dor – A tortura nas prisões da PIDE – Ana Aranha e Carlos Ademar. Lisboa, Parsifal, 2014.
Os Rapazes dos Tanques – Alfredo Cunha e Adelino Gomes. Porto, Porto Editora e autores, 2014.
Salgueiro Maia – Fotobiografia – António de Sousa Duarte. Lisboa, Âncora, 2004.
Zeca Afonso, Andarilho, Poeta e Cantor – Lugares e encontros – Catálogo de exposição. Associação José Afonso, 1994.
Zeca Afonso – Livra-te do Medo. José A. Salvador. Porto, Porto Editora, 2014.
25 de abril – Edição limitada, CNM, comemorativa do 40º aniversário do 25 de Abril.

Discos adquiridos na Primeira Afinação do Projeto Senha Aberta:

Vinte Anos de Canções – Adriano Correia de Oliveira – Movieplay. 2001. Coleção Cantos & Autores 01.
Adriano Correia de Oliveira – Movieplay, 2007.
Grândola Vila Morena – Amália Rodrigues e Grupo Coral Os Canhões de Castro Verde – Ed. Correio da Manhã, 2014.
Ser Solidário – José Mário Branco – EMI, 2012.
Abril a Quatro Mãos – Grândolas – Mário Laginha e Bernardo Sassetti. CNM, 2014.
Tudo  Vitorino – EMI, 2005.
Galinhas do Mato – Zeca Afonso – MVM Records, 2002.

Alguns links disponíveis, relacionados à Primeira Afinação do Projeto Senha Aberta:

Sobre salazarismo:
<https://www.youtube.com/watch?v=ndfWzNEKV7E#t=18&aid=P-Ntt3ZWldI> Acesso em: 13 mar 2014.

Sobre a Revolução dos Cravos:
’25 de abril de 1974 – A Revolução dos Cravos’
<https://www.youtube.com/watch?v=pqk7ApwYNWE&feature=share>
Acesso em: 02 mar 2014.
‘Revolução dos Cravos: 25 de Abril 1974 – Noticiários RTP (1)’ <https://www.youtube.com/watch?v=N-PS3V5Hrek>
Acesso em: 11 mar 2014. ‘
‘Em Entrevista: Francisco Faria Paulino – Capitão de Abril’ <https://www.youtube.com/watch?v=_FVCoF0Iy6o>
Acesso em: 30 jun 2014.
‘Depois de Abril – Documentário – 25 de Abril de 1974’ (Depoimento intimista da guerra colonial)
<https://www.youtube.com/watch?v=vuW1S8nSXNM>
Acesso em: 0 1 jul 2014.

Cantam a canção “Grândola, Vila Morena:

‘José Afonso ao vivo no Coliseu (1983)’
<https://www.youtube.com/watch?v=_KFZwGy1eJ4>
Acesso em: 18 mar 2014.
‘Amália Rodrigues, canta’
<https://www.youtube.com/watch?v=EDEZyFsZGbo>
Acesso em: 03.03.2014.
‘Canto Daqui Grândola Vila Morena – Casa da Música, 2012’
<https://www.youtube.com/watch?v=K3vbFhsgqrs>
Acesso em: 18 mar 2014.
‘Banda 365 – Vídeo Clipe Grândola Vila Morena (Oficial)’ (rock) <https://www.youtube.com/watch?v=nDoNSXa0kSg>
Acesso em: 12 mar 2014.
‘Juan Baez’
<https://www.youtube.com/watch?v=o_bYb-Mces4>
Acesso em: 18 mar 2014.
‘Edyta Geppert.wmv’ (Versão em polonês)
<https://www.youtube.com/watch?v=JGmru1BD3w0>
Acesso em: 17 mar 2014.

‘Poemas de abri?:
‘Manuel Alegre – ‘País de Abril’ poemas ditos por Mário Viegas. (LP 1974)
<https://www.youtube.com/watch?v=PrQ6L_YyFXo>
Acesso em: 10 jun 2014.

Outras Músicas Portuguesas de Intervenção:

‘Traz outro amigo também’ – José Afonso
<https://www.youtube.com/watch?v=5BQrcJKjvL>
Acesso em: 12 mar 2014.
‘3 Pianos – Traz outro amigo também & Perpetuum Mobil’ <https://www.youtube.com/watch?v=4gHakVQSPqM>
Acesso em: 08 mar 14.
‘Ruas da minha cidade’  – J. Pessoa e Carlos Mendes – Paula Ribas <https://www.youtube.com/watch?v=ms0I3J1wxOg>
Acesso em: 11 mar 2014.
‘Os vídeos do Aventar. Tonicha – Já chegou a liberdade’ <https://www.youtube.com/watch?v=_MTU6WjJGy4&list=PLAEA7A0067A6F45F8> Acesso em: 03 jun 2014.
‘Perfilados de medo’ – José Mário Branco
<https://www.youtube.com/watch?v=OzwdYxxhwPc>
Acesso em: 15 fev 2014.
‘Sérgio Godinho & José Mário Branco’ – ‘Que força é essa’, do disco ‘O irmão do meio’ (2003)
<https://www.youtube.com/watch?v=t2lR4BLdrAQ>
Acesso em: 13 jun 2014.
‘Somos Livres’ – Letra, música e voz de Ermelinda Duarte <http://www.youtube.com/watch?v=9v15fr7Wfek&list=PLAEA7A0067A6F45F8> Acesso em: 14 jun 2014.

Músicos brasileiros cantam Portugal:

Chico Buarque de Holanda
‘Fado Tropical’, de Chico B. de Holanda.
<https://www.youtube.com/watch?v=j1BgmY7Hp_E>
Acesso em: 04 jan 2014.
‘Tanto Mar’, de Chico Buarque de Holanda
<https://www.youtube.com/watch?v=t2lR4BLdrAQ>
Acesso em: 23 mar 2014.
Clara Nunes
‘Fado Tropical’, de Chico Buarque de Holanda.
<https://www.youtube.com/watch?v=dOafvuKpN_I>
Acesso em: 06 jun 2014.
Elis Regina
‘Os Argonautas’ de Caetano Veloso.
<https://www.youtube.com/watch?v=44laIxn2VYs>
e
<https://www.youtube.com/watch?v=nLCrWrlWlRk>
Acesso em: 05 jun 2014.

Alguns portugueses e portuguesas relevantes no âmbito da Primeira Afinação do Projeto Senha Aberta:

As três Marias – Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
‘Maria Isabel Barreno and Maria Teresa Horta – Women Inspiring Europe 2013 Calendar. Livro Novas Cartas Portuguesas’
<https://www.youtube.com/watch?v=7BnxL7CbwG4>
Acesso em: 06 mar 2014.
‘Ler Mais Ler Melhor Novas Cartas Portuguesas’
<http://www.youtube.com/watch?v=GQzPrWUl36A>
Acesso em: 03 abr 2014.
Fernando Pessoa
‘Navegar é Preciso – Poema’
<https://www.youtube.com/watch?v=UZkLt1vt2hI>
Acesso em: 04 fev 2014.
‘Paulo Autran declama Fernando Pessoa’
<https://www.youtube.com/watch?v=iXuKZFarmP4>
Acesso em: 05 fev 2014.
‘Fernando Pessoa – ( Documentário de Luiz Cláudio Latgé)’ <https://www.youtube.com/watch?v=ZL8bhv5DjQ8>
Acesso em: 04 fev 2014.
Florbela Espanca
‘Ler Mais Ler Melhor Vida e Obra de Florbela Espanca’ <https://www.youtube.com/watch?v=0Ss_fyyEz6U>
Acesso em: 14 jun 2014.
‘Florbela Espanca, por Eunice Munõz’
<https://www.youtube.com/watch?v=YquaggyE-FI>
Acesso em: 14 jun 2014.
José Mário Branco
‘Entrevista com José Mário Branco (Bairro Alto/RTP)’ <https://www.youtube.com/watch?v=dOafvuKpN_I>
Acesso em: 12 jun 2014.
José Saramago
‘Sobre deus, igreja e bíblia’
<https://www.youtube.com/watch?v=QuHARSJW9Ys>
Acesso em: 05 mar 2014.
‘Discurso de Estocolmo’
<https://www.youtube.com/watch?v=0F-fupSNmJk>
Acesso em: 07 mar 2014.
‘A Maior Flor do Mundo – Literatura infantil’
<http://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U>
Acesso em: 05 mar 14.
‘Documentário Levantado do Chão – José Saramago (RTP)’ <https://www.youtube.com/watch?v=wwzwDzTw0_g>
Acesso em: 07 mar 2014.
‘Entrevista no programa Roda Viva. TV Cultura – Brasil (2003)’. <https://www.youtube.com/watch?v=QCACUZly3DM#aid=P-FCEA-GmLM>
Acesso em: 06 mar 2014.
Salgueiro Maia
‘A história contada por seu mais importante protagonista – As últimas palavras de Salgueiro Maia’
Primeira parte <https://www.youtube.com/watch?v=sbJVk2gq17M>
Segunda parte <https://www.youtube.com/watch?v=zvwuu04BcmI>
Acesso em: 10 jun 2014

Filmes pesquisados, durante a Primeira Afinação do Projeto Senha Aberta:

‘Tarrafal – Memórias do Campo da Morte Lenta’ – Filme RTP – Diana Adringa. <https://www.youtube.com/watch?v=YsHkqjOuPKg>
Acesso em: 13 jun 2014.
‘A hora da liberdade’ (Filme de Emídio Rangel, Rodrigo Sousa e Castro e Joana Pontes – SIC).
<https://www.youtube.com/watch?v=Cnwwmp8EAao>
Acesso em: 29 jun 2014.
‘As armas e o povo’ (Coletivo de produtores cinematográficos) <https://www.youtube.com/watch?v=sL4NACJTlbk>
Acesso em : 05 jun 2014.
‘Bom Povo Português’ (Rui Simões)
<https://www.youtube.com/watch?v=T6VDIRkjORA>
Acesso em: 05 jun 2014.
‘Deus, Pátria, Autoridade’ (Rui Simões)
<https://www.youtube.com/watch?v=2DprY6X3too>
Acesso em: 05 jun 2014.
‘Portugal 74-75 – O retrato do 25 de Abril’ (Joaquim Furtado, José Solano de Almeida, Cesário Borga e Isael Silva Costa – RTP
<https://www.youtube.com/watch?v=AEIPkal6848>
Acesso em: 05 jun 2014.

Sobre a relação Brasil-Portugal:

‘Lá e Cá – Programa 11: Bloco 1′
<https://www.youtube.com/watch?v=pVbtaekv9e4#aid=P7BfwlBhdCA>
‘Lá e Cá – Programa 11: Bloco 2’
<https://www.youtube.com/watch?v=mfwxpgY3Q_k>
Lá e Cá – Programa 11: Bloco 3
<https://www.youtube.com/watch?v=9NZnEOYKrGc>
Acesso em: 11 mar 2014.

Apoiam este projeto:

Arquivo Nacional, Memórias Reveladas. Rio de Janeiro. Brasil;
Câmara Municipal de Grândola. Grândola. Portugal;
Casa da América Latina. Lisboa. Portugal;
Encontros da Imagem. Braga. Portugal;
Albertina Malta. Pesquisadora. Recife. Brasil.

 

 

 

Eliane Velozo
Belo Horizonte, 03.07.2014.

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